
A porta do quarto bate com toda a força contra a parede. Na cozinha, a mãe solta um grito de repreensão ao mesmo tempo que Zé responde com um «desculpa, mãe, foi sem querer…» E foi mesmo! Zé estava demasiado entusiasmado e não mediu a sua força quando abriu a porta.
O rapaz de 15 anos atira com a mochila para um canto do quarto e liga o computador enquanto se descalça e se senta à secretária. O tempo que o computador leva a arrancar obriga-o a esperar uns segundos, que lhe parecem uma eternidade; quer ligar-se com os amigos, o mais rapidamente possível.
Os dedos tamborilam na superfície da mesa. O olhar salta do ecrã para a secretária. Do lado esquerdo, estão os manuais escolares; do direito, os cadernos, as canetas, as réguas e os compassos. Ao centro, o computador que Zé usa para estudar e comunicar com os amigos.
Luz! Finalmente, o ecrã dá sinal de vida e Zé liga-se imediatamente à rede social onde estão os seus amigos. Sorri enquanto bate furiosamente nas teclas do computador: «Pessoal! Começaram as FÉRIAS!!!»
«UH!», responde rapidamente António.
Zé espreguiça-se, levanta os braços e sorri. António é o seu melhor amigo. Tal como ele, tem 15 anos. Estão na mesma turma. São amigos desde os 3 anos, idade com que entraram para a escola, e desde então nunca mais se separaram.
«Ya! Finalmente!»
A mensagem cai por debaixo da frase escrita por António. É Alice, a irmã de Zé, de 14 anos. O rapaz empurra a cadeira e desliza até à porta do quarto.
– Ei! Menina Alice, não se meta nas conversas dos mais velhos! – grita Zé na direção do quarto da irmã, mesmo em frente, do outro lado do corredor.
Alice espreita o irmão e ri-se.
O irmão é pouco mais velho, mas gosta sempre de exercer o seu poder de primogénito. A rapariga alta e morena, com enormes olhos castanhos, atira os cabelos compridos para trás das costas e, depois, sem desviar o olhar do ecrã, grita:
– Estás a perder o melhor da festa!
Zé ri-se, gosta de se meter com Alice. «Ela tem sempre uma resposta pronta! É mesmo inteligente, a minha mana!», pensa para si, orgulhoso da irmã, que está sempre bem-disposta, mesmo quando ele faz tudo para a aborrecer.
O rapaz volta a deslizar, desta vez em sentido contrário, de regresso à secretária. Já tem dezenas de mensagens para ler. «Sim, a Alice tem razão. Estou a perder o melhor da festa», admite para consigo. As aulas terminaram e os amigos, depois de se terem despedido uns dos outros na escola, estão todos a conversar na Internet. Não passou sequer meia hora desde que estavam todos ao portão da escola a desejar boas férias e a combinar saídas em conjunto.
«E as notas?», pergunta Alice.
«As tuas foram o máximo, já sabemos…», responde Amélia, a quem todos chamam Mel. «As minhas foram assim-assim»; acrescenta a rapariga, que gostava de ser tão boa aluna como a sua amiga Alice, mas que está sempre a dizer que não consegue, mesmo quando os professores insistem que ela pode fazer melhor.
«Se te esforçasses mais, conseguias melhores resultados», escreve António, como se estivesse a dar aquele recado a si próprio e ao seu melhor amigo. Ele e Zé também podiam ter melhores notas…, admitem os dois, por escrito, quase ao mesmo tempo. Logo de seguida, acrescentam o quanto se estão a rir por dizerem as coisas ao mesmo tempo. Também ao vivo, ou seja, quando estão todos juntos, fazem o mesmo.
«Parecem gémeos!», escreve Pedro, divertido.
É o primo mais novo de Alice e Zé, tem 11 anos e é o último a entrar na conversa. Atreve-se a fazê-lo porque os primos lá estão mas também porque gosta dos amigos dos primos, Mel e António.
«Olha o pirralho! Já cá faltava!», escreve Zé, divertido por se meter com o primo. «Então, as tuas notas?», continua.
«Boas! E as tuas?»
«Podiam ser melhores! Para o ano tenho de trabalhar mais, disse-me a professora de Português…», acrescenta Zé e volta a espreguiçar-se. A conversa começa a não lhe agradar. «E se falássemos de outra coisa, hem?», propõe.
«Férias!!!», escreve António, entusiasmado.
«Férias!!!», repete Mel, como se soltasse um grito de alegria. «O que é que vão fazer?», pergunta a melhor amiga de Alice.
Praia é o que apetece a todos, mas admitem que também sonham viajar para outro país.
«Os nossos pais andam um bocado misteriosos», confidencia Alice.
«Sim, os meus também. Ainda ontem os apanhei a discutir e só diziam o meu nome e os dos teus pais… Não percebi nada… mas suspeito que vamos descobrir brevemente e que deve ter a ver com as férias», revela Mel, que tem um sexto sentido.
«O meu pai disse-me que eu ia de férias com o Zé e com a Alice, só não me disse para onde… Eu insisti, insisti, e ele só se ria… Acham que vamos juntos para a praia?», pergunta Pedro.
«Não sei, priminho…», responde Zé. «E tu, António… o que é que os teus pais disseram?»
– Meninos! Pôr a mesa! – grita a mãe de Zé e Alice, da cozinha.
«Pessoal, vamos sair. Temos de ir jantar», anuncia Zé.
Ao entrar na cozinha, Zé passa pela mãe e dá-lhe um abraço ao mesmo tempo que lhe diz:
– Minha pequenina advogada!
Zé e Alice são mais altos que a mãe e gostam de brincar com essa situação. A mãe finge ficar ofendida, mas orgulha-se de ter uns filhos tão crescidos.
– Pomos a mesa a contar com o pai? – pergunta Alice.
– Sim, deve estar quase a chegar. Ouçam, é o elevador. Deve ser o pai – diz a mãe, a sorrir.
Zé e Alice entreolham-se. Estranham a boa disposi ...